escute enquanto lê....
A exposição Queremos
Miles que conta vida e obra do músico jazzista Miles Davis se apresentou para
mim por meio de dois distintos modos de observação. O primeiro e mais óbvio
evidencia a montagem da exposição em si usando vários recursos audiovisuias.
Como expor música plasticamente se não através do audiovisual? Mas a montagem
prioriza mesmo a música e não se deixa cair em pirotecnismos audiovisuais.
Junto às salas sonorizadas, projeções e telas de vídeo somam-se discos objetos,
figurinos, instrumentos. A inevitável pergunta surge na boca da menina de sete
anos – Mãe isso é CD? diz a garota apontando para um série de pequenos e brilhantes
EPs... Espalham-se pelo circuito da exposição peças audiovisuais e algumas pérolas
podem ser pescadas... O espaço reservado para grande projeção de uma cena de
Ascensor para Cadafalso, filme cool de Louis Malle, onde a trilha, criada toda
num único dia por Miles, consegue expressar a solidão e a vulnerabilidade inerentes
à condição humana, uma especialidade do músico...
Outra trilha
sonora criada pelo músico faz parte do documentário sobre o boxeador Jack Johnson.
Outras pérolas do audiovisual são um curto filme feito por Jonas Mekas que
registra o encontro de Miles e sua esposa Betty Davis com o ilustre casal John
e Yoko. E o clipe colorido e cool do
álbum Tutu dirigido por Spike Lee. Há também o registro de micos em que até
grandes astros pop caem... como uma curiosa incursão de Davis na publicidade
numa interpretação a lá Bill Murray (Sofia
Coppola deve ter visto isso!), onde faz propaganda de um
licor japonês.... A exposição termina com
devaneios plásticos do músico, suas pinturas piscodélicas.
No entanto o
que mais me chamou a atenção foi o artista, a sua biografia, o modo como comandou
sua carreira e incursões no meio musical. O músico que não era um virtuose - desconfiava
dos que se intitulavam a vanguarda do jazz e buscou toda vida se aproximar do
público - foi capaz de expandir, como
poucos, os limites do gênero, explorando a experimentações acima de tudo. Criando
melodias inesquecíveis com apenas algumas poucas notas e explorando ao máximo a
genialidade própria dos músicos com quem dividia suas criações, capaz
de levar a experimentação a extremos, propondo melodias delicadas.
Impossível
não realizar pensamentos convergentes com a arte contemporânea, em questões
pertinentes como experimentação, inclusão do acaso, aproximação com a
comunicação, a desmistificação do artista, criação colaborativa, a inclusão de questões
raciais, éticas e estéticas no trabalho, a fusão de diferentes gêneros... Sem
nunca deixar de lado o radicalismo e a experimentação artística. Não à toa a
frase que dá título a esse texto foi surrupiada de um texto de parede da
exposição.
Bitches Brew do álbum Bitches Brew de 1970
Info: http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=203749
P. S. Curiosidades na linha o meio é a mensagem.... descobri, lendo outro texto de parede, que o surgimento do LPs de 33 rotações no início dos anos 50 proporcionou um alento para a gravação de experimentações jazzísticas pois proporcionavam mais tempo de gravação.
Info: http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=203749
P. S. Curiosidades na linha o meio é a mensagem.... descobri, lendo outro texto de parede, que o surgimento do LPs de 33 rotações no início dos anos 50 proporcionou um alento para a gravação de experimentações jazzísticas pois proporcionavam mais tempo de gravação.
Muito bom lyara. Faço dessas palavras minhas impressões sobre toda a exposição. Mas não posso deixar de reforçar o aspecto do design da capa de seus discos, eps e afins... Magnificos desde o principio.
ResponderExcluirOi Johon
ResponderExcluirObrigada pelo comentário desculpe a demora em responder. Fique out um tempo, mas agora retomo com pique total.
Vc está certíssimo em chamar a atenção para o design das capas. Isso demonstra que desde sempre o Miles teve uma preocupação plástica com seu trabalho. A questão da imagem perpassa toda a sua obra.