sábado, 26 de novembro de 2011

A soberba da arte contra a indulgência do entretenimento

So what do álbum Kind of Blue de 1959

escute enquanto lê....

A exposição Queremos Miles que conta vida e obra do músico jazzista Miles Davis se apresentou para mim por meio de dois distintos modos de observação. O primeiro e mais óbvio evidencia a montagem da exposição em si usando vários recursos audiovisuias. Como expor música plasticamente se não através do audiovisual? Mas a montagem prioriza mesmo a música e não se deixa cair em pirotecnismos audiovisuais. Junto às salas sonorizadas, projeções e telas de vídeo somam-se discos objetos, figurinos, instrumentos. A inevitável pergunta surge na boca da menina de sete anos – Mãe isso é CD? diz a garota apontando para um série de pequenos e brilhantes EPs... Espalham-se pelo circuito da exposição peças audiovisuais e algumas pérolas podem ser pescadas... O espaço reservado para grande projeção de uma cena de Ascensor para Cadafalso, filme cool de Louis Malle, onde a trilha, criada toda num único dia por Miles, consegue expressar a solidão e a vulnerabilidade inerentes à condição humana, uma especialidade do músico...


Outra trilha sonora criada pelo músico faz parte do documentário sobre o boxeador Jack Johnson. Outras pérolas do audiovisual são um curto filme feito por Jonas Mekas que registra o encontro de Miles e sua esposa Betty Davis com o ilustre casal John e Yoko.  E o clipe colorido e cool do álbum Tutu dirigido por Spike Lee. Há também o registro de micos em que até grandes astros pop caem... como uma curiosa incursão de Davis na publicidade numa interpretação a lá Bill Murray (Sofia Coppola deve ter visto isso!), onde faz propaganda de um licor  japonês.... A exposição termina com devaneios plásticos do músico, suas pinturas piscodélicas.
No entanto o que mais me chamou a atenção foi o artista, a sua biografia, o modo como comandou sua carreira e incursões no meio musical. O músico que não era um virtuose - desconfiava dos que se intitulavam a vanguarda do jazz e buscou toda vida se aproximar do público - foi capaz de  expandir, como poucos, os limites do gênero, explorando a experimentações acima de tudo. Criando melodias inesquecíveis com apenas algumas poucas notas e explorando ao máximo a genialidade própria dos músicos com quem dividia suas criações, capaz de levar a experimentação a extremos, propondo melodias delicadas.
Impossível não realizar pensamentos convergentes com a arte contemporânea, em questões pertinentes como experimentação, inclusão do acaso, aproximação com a comunicação, a desmistificação do artista, criação colaborativa, a inclusão de questões raciais, éticas e estéticas no trabalho, a fusão de diferentes gêneros... Sem nunca deixar de lado o radicalismo e a experimentação artística. Não à toa a frase que dá título a esse texto foi surrupiada de um texto de parede da exposição.
Bitches Brew do álbum Bitches Brew de 1970

Info: http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=203749

P. S. Curiosidades na linha o meio é a mensagem.... descobri, lendo outro texto de parede, que o surgimento do LPs de 33 rotações no início dos anos 50 proporcionou um alento para  a gravação de experimentações jazzísticas pois proporcionavam mais tempo de gravação.

2 comentários:

  1. Muito bom lyara. Faço dessas palavras minhas impressões sobre toda a exposição. Mas não posso deixar de reforçar o aspecto do design da capa de seus discos, eps e afins... Magnificos desde o principio.

    ResponderExcluir
  2. Oi Johon

    Obrigada pelo comentário desculpe a demora em responder. Fique out um tempo, mas agora retomo com pique total.

    Vc está certíssimo em chamar a atenção para o design das capas. Isso demonstra que desde sempre o Miles teve uma preocupação plástica com seu trabalho. A questão da imagem perpassa toda a sua obra.

    ResponderExcluir